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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Epigrama do meu trovador

Álvaro Domingues escreveu sobretudo versos satíricos, de qualidade duvidosa, tão impróprios hoje, nestes tempos politicamente correctos, como no seu (morre em Ceuta, em 1425):
"Raramente via a meu primo, que fazia alguma vida social, convidado amiúde para ceias em casa de burgueses ricos e grandes senhores, a quem deleitava com histórias das suas andanças por essa Europa nos seus anos de expatriado, ao serviço de duques e príncipes — eram sobretudo as senhoras da casa, seduzidas pelo exotismo de reinos longínquos, sempre ansiosas por conhecer as grandes capitais europeias, por saber quais as modas, as intrigas, as paixões dos grandes senhores e senhoras. E meu primo, com os seus dons de contador de histórias, e o seu jeito nunca perdido para rimas e outras coisas de folgar e gentilezas, recriava suas narrativas, embelezava-as, pois, mais do que a verdade das histórias, importa o saber contá-las. (...)
E falava então do desprezo que sentia por estas matronas que o tentavam seduzir descaradamente, sem pensarem antes que o esborrachariam sob o seu peso. Improvisara-lhes até epigrama:
Vós, que grande dama vos julgais
Tanto mal me quereis, pois trabalhais
Para me esmagar em vossas camas
Sob vossas banhas, pança e mamas
Deleitai-vos antes com minhas histórias
Apreciai minhas memórias
Que se pouco valor dou à vida
Não a quero em tal sofrimento perdida
Guardo-me para melhor Sorte
Mais honrosa morte
Que debaixo de vós,
dama de grande porte."

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