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terça-feira, 11 de agosto de 2015

"Antes quero asno que me leve que cavalo que me derrube"

Gosto de burros, sejam eles de raça, como os mirandeses, ou rafeiros como a burrinha que tive na minha mocidade. E não gosto dos espertalhões que, com ideias de jerico, me querem fazer de burro. Como aquele que não sai da televisão, a explicar como é que os burros mirandeses podem prevenir os incêndios. 
(Talvez por a estratégia preventiva estar entregue a asnos a floresta arda inevitavelmente em cada Verão. Adiante.)
Uns anos atrás, outro propunha rebanhos de cabras. Cada qual puxa a brasa à sua sardinha, que é como quem diz aos financiamentos que espera vir a alcançar com as suas ideias asininas. 
Para estes doutores tudo é fácil e só por burrice não é implementado: cabras, ou burros, ou para o ano porcos, vão por esses montes fora, comem não a erva tenra, mas os silvados que tudo invadiram, o tojo e a urze dos pinhais, e o fogo, chegando a vales limpos, pára, menino bem comportado. 
(Ora eu, que já vi as chamas a passarem de monte para monte, deixando quase incólumes os vales... Que vi, na televisão, devo confessá-lo, oliveiras inflamarem-se sem chamas à  vista...)
Eu, que nada sei, sorrio: sempre me lembro de incêndios. Só que antigamente não eram notícia, salvo quando matavam umas dezenas de militares, e nesse tempo incendiário apanhava a pena máxima, salvo erro 28 anos de prisão, que não raro se convertiam em prisão perpétua. Nesse tempo, matas e pinhais eram limpos por mulheres à lenha, que não tinham outro combustível, os matos eram rapados para a cama do gado e para chamuscar os porcos nas matanças.
Nesse tempo, poucos bombeiros havia. Tocava o sino a rebate e todo o povo acorria, homens com enxadas, mulheres com canecos e baldes, garotos com a coragem da inconsciência. 
Depois veio a emigração, para a França e para as cidades, os campos foram abandonados, o mato cresceu livremente. Veio o 25 de Abril, os incendiários foram desculpabilizados, as penas muito aligeiradas, o povo tornou-se espectador e comentador televisivo, o combate aos fogos foi delegado nos profissionais: -- Deixa arder, que o meu pai é bombeiro! Deixa arder, que isto vai para os comunistas...  
Veio a indústria da celulose, os grandes negócios com os incêndios e com o combate aos incêndios...
Fizeram-se leis que não são cumpridas. Não raro, nem se sabe quem é o dono da floresta. O Estado é o pior proprietário, o mais desleixado, o menos cumpridor
Agora os burros são a solução. Bom, se os ensinarem a seguir os incendiários e a mijar nas fogueiras que ateiam, por que não? 

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