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terça-feira, 31 de março de 2015

Birra de criança

No café, a criança faz birra matinal. Quer um gelado.
-- Olha, olha, gelado com este frio! Queres uma pastilha? Um chupa?
Não é nada comigo. Mas recordo que nunca as minhas filhas me fizeram cenas. Sem que por entrarem comigo em café se julgassem com direito a exigir guloseima. No Verão, após o almoço, levo os meus netos mais velhos ao café. Tento convencê-los a comerem gelados. Recusam. Insisto. Que raio, um avô não pode pagar um gelado aos netos em dia de Verão? O maisvelho escolhe um chupa. Cinco cêntimos. Os irmãos imitam-no.
A dona, com a cumplicidade de décadas, sorri-me: -- Tem-nos bem ensinados!
-- Pois já viste isto? Vejo-me e desejo-me para lhes conseguir pagar um gelado nas férias!

Aquela criança não se cala. Sabe ela, sei eu, sabe toda a gente -- acabará por ganhar. Há que porfiar.
E a mãe, para não perder a face. -- Queres um bolo?
Recusa. -- Um gelado!, grita.
-- Se não queres um bolo, não te compro nada! 
Finalmente, de má vontade, a criança aceita. Escolhe. 
-- Mas não o vais comer agora. Recomeça o berreiro. E manda embrulhar o bolo: -- Vais levá-lo para comeres no infantário!
Não é nada comigo. Mas imagino as outras crianças a olharem augadas para o bolo. Ou não, talvez também elas tenham antes passado pelo café a abastecerem-se de alimentos saudáveis. Que não se diria no Facebook se a Isabel Jonet em entrevista defendesse que as crianças não devem comer bolos todas as manhãs, gelados todas as tardes, chupas e pastilhas a toda a hora? Se tivesse o azar de lembrar que o dinheiro falta para umas coisas, jamais para outras? 
Enfim, não é nada comigo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mas não foi isso que a Isabel Jonet defendeu, pois não?

Disse aos pobres de quem se alimenta - desde que quis ter qualquer coisa para se entreter pois os filhos estavam no colégio - que se deixassem da mania de querer comer bife e que se não têm dinheiro para bifes comessem aquilo para que têm dinheiro - em muitos casos, basta andar na cidade, bolos e junk food.

Enche e é barato. O isolamento e o trabalho (pago e mesmo que de subsistência) no campo não estão ao alcance de todos.