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sábado, 3 de setembro de 2011

Campo Maior, cidade das flores

Nuvens negras, aguaceiros, os estragos do temporal da véspera neste estranho verão alentejano, nada faz desanimar o povo. Nem as noites gastas a abrir as flores de papel que a chuva fechou, nem as madrugadas a substituir as desbotadas por outras reservadas para desastres como este, nem a lida debaixo de guarda-chuva a resguardar com plástico arcos e colunas. Bem-dispostas e bem-dispostos como se tivessem dormido boas noites, orgulhosos da façanha da vila, que não é pouca coisa dar tecto às ruas com milhares de milhares de flores de papel, agradados com o número inesperado de visitantes, acolhem-nos com cordialidade em vias de extinção noutras partes. E, vendo-nos desconfortavelmente abrigados de chuvada que tinge as ruas com as cores que antes eram das flores, trazem-nos cadeiras de plástico e com a humildade de quem faz coisas grandes sem de tal se aperceber, contam sem amargura nem arrependimento o que têm batalhado para que o mau tempo não destrua a decoração da cidade e frustre as expectativas dos visitantes.
Que diferença, este povo que se não lamenta nem desiste, nem pergunta se é em vão que labuta na preservação da beleza artificial que a natureza inveja, abomina e destrói, e o país que as notícias matinais me revelam, dirigido por políticos como Vítor Gaspar, que a televisão pública, na sua atávica sabujice, passa durante tempo interminável a exemplificar as melhores técnicas soporíferas em aula na Universidade de Verão do PSD. Aula tão boa, tão boa, que os contribuintes, cada vez mais sobrecarrados com cortes e impostos,  têm também de gramar. Porque uma desgraça nunca vem só.

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