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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Relativismo moral

Suponhamos que me proponho descrever o ataque e a tomada de um navio de passageiros ou de um avião. Por exemplo, o Achille Lauro, ocupado  por um comando palestiniano em 1985. Se adoptar o ponto de vista dos atacantes, falarei de revolucionários heróicos que lutam por uma causa que consideram justa. Se, pelo contrário, abraçar o ponto de vista oposto, falarei em pirataria cruel, que não hesita em assassinar e deitar borda fora um passageiro paraplégico. Aparentemente, ambos os pontos de vista são defensáveis, talvez até legítimos. Mas acontece que eu recuso o relativismo moral, embora não seja ingénuo ao ponto de condenar em absoluto o Mal, que tem o seu papel como força motriz da história: sem a maldade, viveríamos ainda felizes e inconscientes no Jardim do Éden e conversaríamos amenamente com o Senhor quando, ao fim da tarde, fizesse o seu passeio refrescante...
Preciso, portanto, de dar conta dos vários pontos de vista, das suas hipocrisias, incoerências, inconsequências e consequências. De mostrar que em nome da Razão e do Bem se cometem atrocidades. De alertar para os perigos das boas intenções (lá diz o povo, delas está o Inferno cheio) e, sobretudo, de não transformar terroristas em cavalheiros cultos, aventureiros, empenhados no progresso social.
Assim, regicídio, ditadura salazarista, nazismo, comunismo, assaltos a embarcações turísticas e a aviões civis, etc. (a lista seria infindável) surgirão como acontecimentos historicamente datados, contextualizados, mas não como actos dignos de admiração e de imitação.Tarefa difícil? Talvez, que será tentador tomar por bons os testemunhos dos intervenientes, sempre interessados em branquear as suas acções perante as gerações vindouras, os quais aparentam sobremaneira ser credíveis se simpáticos, cultos, com modos cavalheirescos e, a cereja em cima do bolo, quando falam fluentemente Francês.
E, porque se pode aprender muito com os mestres, nada como ler Camilo Castelo Branco, que tão bem resolve este tipo de narrações paradoxais. Por exemplo, Onde está a felicidade ou A Brasileira de Prazins.

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