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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Verdades inconvenientes

Lembrados que estamos da euforia contagiosa do primeiro-ministro a propósito da sua interpretação dos dados do relatório PISA 2009, prontamente partilhada por dirigentes sindicais (os quais, se um dia foram professores, já se esqueceram, e percebem tanto de ensino como os nossos governantes), eis que o Ministério da Educação, através do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) divulga estudo demolidor sobre as "competências", como hoje se usa dizer, dos nossos alunos. Veja-se, por exemplo,este fragmento (negrito meu):
Secundário. Escrever textos explicativos em que é necessário descrever raciocínios e explicar as estratégias adoptadas para justificar as respostas é uma das grandes deficiências que os especialistas do Gave encontraram em todas as disciplinas avaliadas no secundário. A falta de rigor científico e a linguagem desadequada foram falhas detectadas por todas as equipas que monitorizaram e avaliaram o desempenho dos alunos. Sempre que foi preciso seleccionar a informação e construir um texto que traduzisse um conjunto de ideias próprias, os alunos revelaram "grandes dificuldades".
Nem outra coisa seria de esperar.  Porque "A falta de rigor científico e a linguagem desadequada" são mal nacional, partilhado por muitos professores, que de há anos para cá se especializaram em planos de recuperação, metas, relatórios que sempre exaltam o sucesso atingido com merdas que não lembram ao diabo, que se esfalfam para conseguir "evidências" do seu desempenho sempre excelente, e registam o seu brilhantismo em documentos que só o vazio de conteúdo e a escrita deplorável deslustram. E é duro ouvir e calar, de manhã à noite,  "tu fostes", "tu fizestes", "houveram professores", "quaisqueres alunos"...
Querem soluções? (Bem sei que não.) Substituir esta avaliação de desempenho por uma avaliação de conhecimentos científicos e da prática pedagógica, que dê peso máximo à avaliação de aulas assistidas. Desvalorizar --- ai, o que eu vou escrever! --- tudo aquilo que foi feito no âmbito das chamadas ciências da educação e, nomeadamente, nas Escolas Superiores de Educação. Avançar com as provas de ingresso na profissão. Avançar com provas para todos, a começar por mim. E, mais uma vez, o fim imediato desta avaliação de desempenho, parida pela ex-ministra da educação e pela sua equipa, que subverte e perverte o ensino.

Declaração de interesses: sou professor de Português desde 1976 e orgulho-me da minha profissão. O meu perfil está disponível AQUI, onde pode ser também descarregada a minha dissertação de mestrado. Podem bater-me à vontade. Façam favor.

2 comentários:

José Ricardo Costa disse...

Completamente de acordo em tudo.

JR

JCC disse...

Muito obrigado. É bom saber que não sou o único a dizer que o rei vai nu.