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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Como água que corre

Assim quero a minha escrita. Cristalina, desimpedida de escolhos, tão natural que a julguem espontânea, tão simples que a creiam fácil, tão livre que a digam anárquica. E para o conseguir trabalho duro, por camadas,  aplainando primeiro, polindo depois, envernizando por fim, olhos postos nos santos mestres Vieira,  Garrett, Camilo, Eça, Saramago, de outros mais novos, ainda não canonizados, que eu já beatifico: Mário de Carvalho, Velho da Costa, Mia Couto... Dizem-me que deveria pensar nos gostos dos júris dos concursos, do público actual, dos críticos... Mas eu, Carneiro de signo e  de temperamento, persisto: o sucesso, que não desdenharia, não é o que me move; quero escrever pelo menos uma página à altura dos meus mestres... Se me ignoram, se alguns críticos, se alguns escritores, nem sequer se dignam responder a mail com oferta de romance, pior para eles. E, se a  minha obra (desculpem a imodéstia: já tenho umas coisitas, espero produzir mais e melhor) tiver mérito, ela acabará por se impor, como a verdade, que vem sempre à tona. 

Na foto: texto em que trabalhei esta manhã. Quantas revisões não sofrerá ainda, até que, completamente irreconhecível, possa chegar ao eventual leitor? Chamar-me-iam mentiroso se fizesse uma estimativa -- algo como centenas. Se este trabalho fosse pago à hora, estaria rico; se fosse sequer pago, seria muito bom...

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