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quinta-feira, 6 de março de 2008

Sábado lá estarei!

De ordinário, falta-me tempo e paciência para ver entrevistas com políticos; pensem lá eles o que pensarem de si próprios, basta-me sofrer com o que fazem, quanto mais ter de os ouvir. Mas não resisti à entrevista de há pouco, no Canal 1, com a minha ministra. Se bem percebi, tudo o que faz é para meu bem; eu é que não compreendo (serei burro? serei ignorante? não saberei ler?) e, tal como eu, os milhares de professores que andam descontentes apenas porque se lhes pede mais trabalho, que resulta, aliás, do nosso próprio esforço para manter mais trinta e tal mil alunos no Ensino Básico...
Fiz a quarta classe no antigamente, quando para tal era necessário saber ler e escrever; licenciei-me noutros tempos pela Faculdade de Letras de Lisboa e duas décadas depois voltei lá e fiz um mestrado em Linguística, bem antes de Bolonha, que me levou sete anos (Sete anos Jacob Labão servia...). Inscrevi doutoramento em Linguística Computacional na mesma faculdade (que, nas circunstâncias actuais, dificilmente concluirei) sobre a computação da causatividade - devo saber ler, não? Sou coordenador de departamento, sim, um desses famigerados sobre quem recai a responsabilidade da avaliação, li tudo o pouco que o Ministério da Educação publicou, tarde e a más horas, e ainda ouço dizer que estou mal informado? Então, só posso dizer como o jogral Diego Pezelho:
"Meu senhor arcebispo, and'eu escomungado,
porque fiz lealdade; enganou-me o pecado.
Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor."
Basta apenas substituir "arcebispo" por "ministra"; na época, "senhor" era palavra uniforme.
Mas, ignorante, desinformado, enganado pelo pecado, sábado lá estarei!

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